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Contingência no Brasil. Como está o mercado diante deste desafio?

Solange Calvo
5 minutos

Contingência no Brasil. Como está o mercado diante deste desafio?

Ativos ficam em risco por falta de estratégias de continuidade. Amadurecimento do mercado e novos modelos comerciais podem mudar cenário.

Sua empresa tem um plano de recuperação de desastres? Em 51% das companhias brasileiras a resposta para essa pergunta é não. Os dados são de um estudo global realizado pela Regus, fornecedora de soluções de TI, com 12 mil executivos em 85 países.

Divulgado no final do ano passado, o levantamento aponta ainda que 57% das companhias que atuam em solo nacional não têm qualquer estratégia de continuidade dos negócios em relação ao local de trabalho, quando afetados por desastres naturais.

A Regus alerta que os números mostram que muitas empresas colocam em risco ativos de acionistas por não tomarem as devidas precauções para inverter situações de catástrofes. Outro dado relevante do estudo aponta que as companhias brasileiras estão menos propensas a perceberem o custo da recuperação de desastres como algo proibitivo, citado por 31% dos entrevistados.

Apesar de as grandes organizações no Brasil estarem melhor preparadas do que as de menor porte para eventos de recuperação de desastres, em média, 49% delas ainda não contam com instalações dedicadas a continuidade dos negócios, aponta o levantamento.

“Aqui no País, o cenário de contingência está restrito a empresas de grande porte, ainda assim, não de forma ampla”, afirma Marcelo Safatle, diretor-executivo da Hostlocation. Ele acrescenta que, por esse motivo tem muito a crescer, especialmente neste momento de aquecimento.

“Mas os modelos comerciais dos serviços ainda são muito primitivos, se comparados ao mercado norte-americano. Estamos sempre pensando em alternativas flexíveis”, aponta Safatle.

Na opinião de Anderson Figueiredo, gerente de Pesquisa e Consultoria da IDC, o momento nacional, com o crescimento dos negócios, impulsiona a expansão das operações empresariais e a necessidade de disponibilidade, de muitas delas, especialmente as atuantes no mercado financeiro. Essa movimentação deve aquecer a busca por serviços de contingência, segundo ele.

“Os bancos nos Estados Unidos são obrigados por lei a ter contingência. No Brasil, não, mas todos têm. Afinal, depois do 11 de setembro, muitas decisões foram tomadas nesse sentido. E não adianta querer contingenciar fora do País, pois os dados financeiros não podem ficar além do território nacional”, diz Figueiredo. “O serviço é uma boa opção, visto que não é nada fácil construir um data center para contingência. Além de ser caro, consome entre dois e três anos.”

Por outro lado, o estudo da Regus identificou que dois terços [ou 66%] dos profissionais ouvidos no Brasil declararam que investiriam em recuperação de desastres se o serviço tivesse preço mais acessível.

Mas não é somente uma questão de preço, de acordo com Figueiredo. Ele argumenta que o provedor do serviço precisa deixar claro o retorno do investimento (ROI). “Cada vez mais essa ação está sendo necessária. Quem vende tem de mostrar isso para quem contrata. A própria empresa não sabe quantificar quanto ela gasta”, alerta.

Serviços mais atraentes

E o cenário parece estar mudando e se tornando mais atraente. Data centers estão-se empenhando no oferecimento de modelos comerciais mais interessantes. “É como se fosse um seguro de carro. Ninguém quer usar. Mas paga-se pela prontidão e pela paz de espírito”, diz Alexandre Siffert, presidente da Ativas.

Para tornar um pouco mais atraente o modelo de contratação, ele diz que a empresa criou o serviço site backup on demand, em que o cliente paga efetivamente pela infraestrutura quando, de fato, a estiver usando em caráter de contingência. O cliente contrata um espelho da estrutura atual dele, que está em produção [chamado de primário] e só quando declara contingência é que usa o site backup. “Está sendo muito bem aceito.”

Ricardo Barone, vice-presidente da Unidade de Serviços da Sonda IT, destaca que, na empresa, o modelo comercial também reproduz o de seguro de veículos. O cliente só paga a franquia, quando usa o serviço em uma situação de desastre real. “Enquanto nada acontece, é uma assinatura que cobre apenas os custos em stand-by, de prontidão do ambiente, para provisionamento de capacidade.”

O executivo tem observado expansão dessa demanda em todas as verticais, não somente de empresas do setor financeiro. Mas ele acredita que ainda vai demorar um pouco para a modalidade aquecer de verdade por aqui.

Contudo, ele já se prepara para a ebulição. Barone relata que ganhou reforço com a expansão da operação em solo nacional. Antes, os serviços de disaster recovery contavam com a participação de parceiros no oferecimento de infraestrutura. “Agora, provemos internamente”, afirma e acrescenta que em junho irão inaugurar no Chile uma unidade de 1,5 mil metros quadrados, que estará interligada à existente em solo nacional. “Teremos ainda mais recursos, reforçando atuação em cloud, com modelos mais flexíveis e atraentes.”

A saída para um plano de contingência seguro e elástico virá da nuvem, na opinião de José Geraldo Coscelli, COO da Globalweb Outsourcing. Ele destaca os data centers nos Estados Unidos, com os quais a empresa mantém parceria. “Lá, existem quatro entradas de energia e, portanto, também temos contingência energética”, afirma o executivo para quem a efervescência por serviços de contingência ainda não foi percebida.

A Alog tem sido procurada para o serviço e acredita que ele deverá crescer na movimentação dos negócios. “Batem à nossa porta, especialmente instituições financeiras, que têm ações em bolsa. Alugamos espaço para a criação do ambiente de redundância e também para que os funcionários possam operar o negócio no site da Alog”, relata Peter Catta Preta, diretor de Infraestrutura da Alog.

Bruno Arrial dos Anjos, analista sênior de Mercado da Frost & Sullivan, também aposta em cloud computing como alternativa viável para contingência, mais simples, flexível e barata. Mas ele é cuidadoso: “É possível contingenciar servidores para não interromper a operação da empresa. Mas, primeiramente, o conceito terá de ganhar a confiança corporativa e amadurecer, juntamente com a infraestrutura de telecom do País”, ressalta. “Quando isso acontecer, vai causar impacto no mercado.”

O analista revela que tem ouvido muito pouco sobre contingência quando conversa com os CIOs. “Ao menos, não tanto como cloud, disponibilidade e até colocation.”
A contingência hoje é claramente uma necessidade, segundo Flávio Duarte, executivo de Serviços da IBM. “Isso porque, dependendo do setor de atuação da empresa, a parada pode gerar prejuízo de milhões para companhias como operadoras de cartão de crédito e de e-commerce.”

Duarte destaca que muitas formas têm sido orientadas para que o cliente reduza o custo com esse serviço. Virtualizar somente a parte crítica é uma delas. “A IBM tem andares vazios para abrigar empresas que não conseguem operar em seus sites em casos de incidentes. Além disso, a nuvem é uma saída rápida e confortável”, diz e informa: “Nos Estados Unidos, 80% das startups iniciam suas atividades na nuvem.”

A Tivit descobriu uma maneira de o preço pago pela contingência não incomodar tanto pelo fato de não ser usada [desejo de todo CIO]. Adotou um modelo comercial em que o cliente não mais paga por uma estrutura parada, esperando acontecer algum desastre para ser utilizada.

“Todo o tempo, além da garantia de prontidão de contingência, colocamos em funcionamento os ambientes considerados não produtivos, ou seja, os de desenvolvimento de aplicações, testes, homologação etc”, descreve. “Dessa forma, essas produções são redundadas no Rio de Janeiro, reproduzindo a estrutura de São Paulo, no caso de um de nossos clientes.”

A questão colocation

O serviço já foi alvo de várias discussões sobre seu futuro, especialmente em razão da força e aceitação que vem ganhando o conceito cloud computing. Este que pode sentenciar a modalidade ou mesmo impulsioná-la. Mas com o aquecimento do setor de data center, analistas estimam que ele ganhará fôlego. Ainda assim, opiniões e estratégias dividem-se no mercado.

“Somos uma empresa de gestão de serviços, ou seja, o chamado Managed Service Provider (MSP). E não um data center puro sangue. O que entrego para o cliente é gestão de serviço. Fazemos a tradução da infraestrutura no negócio do cliente”, diz Siffert, presidente da Ativas. Por essa razão, o executivo afirma que colocation não faz parte da sua estratégia.

E argumenta: “Um rack ocupa em torno de três metros quadrados. Se pegarmos 5 mil reais e dividirmos por essa metragem, vamos achar o preço mensal por metro quadrado. Multiplicando isso por 12, teremos algo em torno de 20 mil reais. Então, uma solução de colocation, hoje, gera uma receita média de 20 mil reais por metro quadrado”.

Sendo assim, o ticket médio da Ativas por metro quadrado, prossegue o executivo, com base na receita bruta obtida no ano passado, dividida pela área consumida de data center, vai dar cerca de cinco vezes esse valor. “O que isso quer dizer? Significa que quando pensamos em ter um data center Tier 3, não é para ter colocation. Porque colocation destrói o valor”, afirma.

De acordo com Siffert, não se pode imaginar vender data center por metro quadrado como se aluga uma sala comercial. “Com toda a certeza não é nosso business. Só tem um jeito de ganhar dinheiro com colocation: com escala.”

“O planejamento de um data center que vai oferecer colocation não é o mesmo para hosting. A expectativa de faturamento por metro quadrado é realmente diferente e também a sua estrutura”, explica Figueiredo, gerente de Pesquisa e Consultoria da IDC.

Victor Arnaud, diretor de Marketing, Processos e Produtos da Alog, defende o colocation, acredita no seu crescimento e afirma que muitas das avaliações desse mercado são distorcidas. “Se fosse um mau negócio, a Equinix não teria registrado faturamento de 1,6 bilhão de dólares nos Estados Unidos, com colocation puro em 2011”, rebate, referindo-se à fornecedora norte-americana de serviços de data centers que comprou a empresa
em 2011.

Segundo ele, é notória a preocupação de empresas de operações críticas como as do mercado financeiro e de e-commerce com o controle e disponibilidade. “Por isso, precisam da gestão nas mãos. Sem contar que é muito mais fácil, rápido e barato contratar espaço do que construí-lo.”

“Estamos prontos e torcendo para a expansão do serviço, que já está acontecendo . Somos muito procurados”, alfineta e avisa: “O cenário está altamente positivo e estamos atentos às possibilidades com cloud, conceito que também não está fora da nossa estratégia”.

A IDC indica colocation como uma das alternativas viáveis para empresas que estão lutando para garantir que seus data centers estejam em linha com a demanda dos negócios. Chris Ingle, vice-presidente associado da IDC, constata que parte desse cenário foi causada pelo crescimento da computação em nuvem.

Ingle aconselha que as organizações considerem o uso de capacidade externa com mais frequência. “Colocation e projetos de hospedagem na nuvem pública são alternativas de abastecimento, que fazem sentido para algumas organizações”, afirma.

Na visão de Cecci, diretor de Pesquisas do Gartner, apesar de as empresas não gostarem muito de colocation, porque querem maximizar suas margens e o fazem por meio de serviços, é um mercado que vai crescer. “Ele não estava muito popular, mas com o aquecimento do setor, deverá ganhar impulso. Até porque, não deixa de ser uma porta para o oferecimento de serviços.”

“A IBM não trabalha com colocation porque é um serviço de muito baixo valor agregado. Não alugamos metro quadrado. E a tendência para prover infraestrutura em cloud vai abalar ainda mais essa modalidade de serviço”, avalia Duarte, executivo de Serviços da IBM.

“A expectativa de expansão deve ser rápida e temporária. Não vejo essa estimativa de boom de colocation. Penso que ele serve apenas para atender a uma necessidade pontual de um cliente.”

Provedora de serviços de outsourcing e data center (cloud privada), a CorpFlex, sediada na cidade de Barueri (Alphaville), conta com 90 colaboradores e apresenta uma carteira de clientes corporativos e ativos com mais de 450 nomes. E optou por operar em colocation.

“Não está em nossos planos ter uma estrutura própria e, portanto, colocation é uma modalidade perfeita para nossa estratégia”, diz João Alfredo Andrade Pimentel, diretor da CorpFlex.

A empresa possui a operação em dois data centers no Brasil, que não quis divulgar os nomes. No último ano, investiu mais de 6 milhões de reais na infraestrutura para torná-la ainda mais disponível e também em contingência. Mas não pensa em largar o colocation. Assim como ela, há várias outras corporações que acham mais prático e seguro manter a gestão do negócio sob total controle. É uma questão de escolha estratégica, avaliam os consultores.

Texto original: Computerworld

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